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Existe a macia e alcoólica loira que está a fim e não se importa com a roupa que veste desde que seja um mink, ou para onde vai desde que seja o Starligth Roof, onde tem um champanha seco à beça. Existe a pequena e viva loira, um pouco pálida, que faz questão de pagar sua parte e vive cheia de raios de sol, bom senso, e sabe lutar judô, e pode puxar um chofer de caminhão por cima do ombro sem perder mais que uma linha do editorial da Saturday Review. Há a loira pálida com anemia de algum tipo não fatal mas incurável. É bem lânguida, bem sombria e fala macio sobre qualquer coisa. Você não pode tocar um dedo nela porque, em primeiro lugar, você não está a fim, e, em segundo lugar, ela está lendo The Waste Land ou Dante no original, ou Kafka ou Kierkegaard - ou então está estudando provençal. Ela adora música e quando a Filarmônica de Nova Iorque toca Hiendemith é capaz de dizer qual dos seis contrabaixos vai aparecer num quarto de compasso depois. Ouvi falar que Toscanini também consegue isso. São dois, portanto.
E por último existe aquela maravilha que vai fazer hora com três gangsters da pesada e depois se casar com alguns milionários, um milhão por cabeça, e termina a vida com uma villa rosa-pálido em Cap d'Antibes, um Alfa-Romeo equipado com piloto e co-piloto, e um rebanho de sólidos aristocratas, sendo que cada um deles ela irá tratar com uma afeição distraída, como se fosse um velho duque dizendo boa-noite ao seu mordomo.
Este sonho ali no bar não era nenhuma dessas loiras, nem mesmo deste mundo.
Philip Marlowe, em
O Longo Adeus, de
Raymond Chandler. (
RSF)